sexta-feira, 20 de junho de 2008

Do latin masculu

Na capa do ‘Senhor dos Anéis’ volume único, não lembro que edição, é aquele dos Argonath na frente. (ta, como se todo mundo soubesse o que são argonath) Aquele das estatuas lá, sabe? Não? Enfim, na parte de trás está escrito algo como ‘o mundo está dividido entre aqueles que já leram o hobbit e o senhor dos anéis e aqueles que não leram’.
Oras. Não é óbvio? Claro que quem disse isso estava se referindo ao brilhantismo das obras de Tolkien. Mas não deixa de ser óbvio. O mundo ta dividido entre aqueles que já fizeram qualquer coisa, e os que não fizeram.
Uma dessas divisões eu pensava estar surgindo agora, mas pensando bem, deve ser muito antiga. Ou você é macho ou você é gay! Não existem mais homens, você tem que ser um extremo. Ou você faz um comentário sobre cada mulher que passa por perto e diz quatro palavrões pra cada 3 não palavrões, ou você é gay. Simples e fácil. Nem precisa pensar muito, é uma classificação bem simples.
Eu nunca quis ser macho. Sempre preferi ser homem a ser macho. A macheza está, para mim, associada à irracionalidade, a tentar demonstrar superioridade sobre outros machos baseando-se na força, agressividade, desprezo por regras e costumes e outros excessos de testosterona que impossibilitam qualquer apresso por gentileza ou sentimentos.
E muitas vezes toda essa pose de desleixado e invulnerável nem é pra impressionar as mulheres, é na verdade uma tentativa de impressionar os outros machos.
Não pensem que esse texto é pra alguém especifico. Não, faz um bom tempo que eu penso nisso já. E um dia no metrô uma moça me fez pensar com mais interesse nesse assunto.
Estava eu na Barra funda esperando o metrô chegar, devia ser por volta de meio dia e eu já estava um pouco atrasado. Quando o metrô aparece no finzinho da curva lá na frente, começa o empurra-empurra. Um cara do meu lado estava com muita pressa. Devia ser muita pressa mesmo, porque antes mesmo de o metrô parar, ele já empurrava um grupo de mulheres com sacolas contra o vagão.Uma voz no meio do bolo de gente que se formava a frente de onde a porta ia parando disse “Nem parou ainda, ô! Fica empurrando um monte de mulher na parede? É muito macho, né?!” Depois, um segundo de reflexão quieta e: “Tem que ser macho mesmo, porque homem mesmo não faz isso!”
Também não vou condená-lo, talvez estivesse com algum problema urgente, e apesar de as pessoas ao redor não terem nenhuma culpa, ele pode não ter lembrado disso, muita gente não lembra.
O fato é que se ele fosse homem e não macho o abajur que a moça comprara teria chegado inteiro em casa.


 Legião Urbana - Via Lactéa

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